Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2003Crônicas

A dita cuja

“Cão Fila km 26”. Lembra? Essa pichação ganhou até das Casas Pernambucanas — e dos políticos que adoram sujar cidades com seus nomes.

Na ditadura, militares queimaram as pestanas pensando que fosse mensagem cifrada de terroristas; ponto de encontro para assaltar banco; alguém de sobrenome Fila xingado como a Geni do Chico Buarque. (Um dia, o muro do cemitério da Consolação, em São Paulo, amanheceu pichado: “Joga bosta no Golbery!” E o Chico, que nada tinha a ver com o vândalo, quase vai preso de novo.)

Em todos os Estados, comitivas armadas saíram de quartéis para vasculhar o km 26 de todas as estradas e nada. Ninguém pensou (tá certo que era exigir muito) no óbvio: uma raça de cachorro de origem provavelmente portuguesa. Só. Na verdade, um grande golpe de marketing de um membro da família Lara Vidigal, criador da raça Fila, com canil montado no km 26 da estrada de São Bernardo do Campo. Só que o Lara Vidigal exagerou: pintou sua marca registrada até nas ruínas do Parthenon, na Grécia. Aí, não!

Mas em Campinas, há uma rival do Fila: a bandeira da Ponte Preta nas mãos do Gilberto Gonçalves, que se intitula “embaixador da Macaca no planeta Terra”. Ele diz que está tudo provado em duas mil fotos. Algumas das façanhas:

Junho de 1998, Copa do Mundo, em Nantes, jogam Brasil e Marrocos. O Pelé olha para as arquibancadas e diz ao Galvão Bueno: “Olha lá, Galvão, a bandeira do meu querido Santos!”. A bandeira tinha 12 metros quadrados! Meio sem jeito, Galvão corrigiu: “Não, é a bandeira da Ponte, onde seu filho Edinho vai estrear no mês que vem…”. Diz o Gilberto que o João Saldanha tinha razão: o Pelé não vê direito, mesmo.

O Gilberto jura que colocou a bandeira da ‘Nega Véia’ no local onde o John Lennon foi assassinado, em Nova York (humor negro de alvinegro, não repare); na grade da Casa Branca (o Bush mandou tirar pensando que fosse do Iraque); a 100 metros do Centenial Park, onde estourou a bomba em Atlanta, na Olimpíada (“a bandeira ficou intacta”…) E… Diz Gilberto: “Um dia especial para os italianos aquele oito de outubro de 2000. Michael Schumacher, de Ferrari, ganhava o campeonato mundial no Japão. No Vaticano, terminada a missa, puseram o Papa no “papamóvel” e deram uma volta na praça de São Pedro. Consegui colocar a dita cuja bem na frente dos olhos do Santo Padre!” (É verdade, um primo que esteve lá naquele dia conta que alguém perguntou a ele: “Quem é aquele velhinho de branco na frente da bandeira da Ponte?”)

Toda essa história porque contei aqui que quando o homem desceu na Lua, alguém no Éden bar falou: “O astronauta vai encontrar a bandeira da Ponte hasteada lá, quer apostar?” Foi você que hasteou, Gilberto?

Pregado no poste: “Quero ver levar a dita cuja à galera do Bugre hoje no dérbi…”

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