Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2008Crônicas

A diferença

Remexendo seu velho baú, o Geraldo Trinca encontrou às folhas tantas, uma, datada de abril de 1984, do extinto “Jornal de Domingo”, com uma crônica do ex-integrante da ex-turma do Jardim São Benedito Wagner José Geribello, hoje excelentíssimo diretor do Centro de Linguagem e Comunicação da
Puccamp. Espantosa atualidade, com apenas uma diferença – e que diferença! Retalhos das anotações do dr. Geribello:

“Naquele tempo, travesti nem existia; os maconheiros da cidade eram todos conhecidos e, como tais, ostensivamente evitados.”.

“Era um tempo curioso, em que a moçada saía às ruas depois das oito da noite e não voltava para a casa defasada dos pertences, esfaqueada ou baleada, quando muito, engrogueada de bebedeiras inocentes, curtidas na Festa das Nações e bailes debutistas.”.

“Carro da moda era o Simca; Pelé, um principiante e congestionamento, uma hipótese inviável para a calmaria campineira, em que a moçada fazia ponto pra flertar as minas, falar das coisas e curtir a turma.”.

“Entre as turmas, tinha a do Jardim São Benedito, alíás, Praça Pedro Segundo, cujo território se estendia dos contrafortes emparedados do Grupo Francisco Glicério ao leito carroçável da Duque de Caxias no sentido do comprimento, enquanto a largura ia da Boaventura do Amaral à Irmã Serafina..”.

“Para matar bem suavemente o tempo, tinha o banquebol, curtas peladas disputadas em duplas, com bolotes de papel amassado. Uma dupla sentada no banco, defendendo, outra, em pé, atacando, fazendo passe e chutando em gol, naquela base do dez vira, vinte acaba, sem direito à revanche.”.

De quando em vez, ecoavam tabefes belicosos, rastapés e supetões, antagonizando amigos inimizados que, duas horas depois, estavam fumando do mesmo cigarro, escondido, confirmando as mesmas opiniões, conversando sobre o último sucesso de Vandré ou ponderando o resultado previsto do próou ponderando o resultado previsto do prmo cigarro escondidosicsximo derby, que ia dar Ponte na cabeça…

— Não. Guarani.

— De jeito nenhum. Ponte.

— Guarani.

— Ponte.

… e a briga começava de novo!

O primeiro a virar recolhe nas entreoras das dez e meia era solenemente saudado com um coro risocantado…

— “Já é hora de dormir / Não espere mamãe mandar / Um bom sono pra você / Um alegre despertar”.

Música atrás de música, colega atrás de colega, a turma ia-se desmanchando, quebrando a guarda da praça, que o tempo infestou de bandidos, ladrões, mundanas e transviados, enquanto a turma enturmada foi-se desenturmando, tomando os rumos da vida, virando pura saudade do Gera Trinca, João Ginefra, Marco Brás, Márcio de Luca, Luís Gonzaga, Leporini, Válber, Zico, René, China, Chininha, Lucilho, Zeco Ginefra, Neto, Tião, Gustavo, Marreco, Walter…

Pregado no poste: “A diferença? Não há mais dérbi…”

 

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