Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2007Crônicas

A causa

Na qualidade de membro honorário da AFA – Associação dos Freqüentadores do Aeroporto (de Congonhas) –, exatamente porque não viajo de avião nem daqui até esquina, posso garantir que essa tragédia que se abateu sobre nós não se deve a conspirações políticas. Já dizem por aí que tudo é um plano para desequilibrar o governo Lulla, que o pessoal da FAB (Força criada na conservadora UDN) está descontente com o trato dado aos seus controladores e muito mais.

(Em tempo: “AFA” também quer dizer ‘Associação dos Fofoqueiros do Aeroporto’. Fofoca ou não, ninguém me tira da cabeça que o jato da Varig que caiu em Orly, em 1973, levava carga perigosa à revelia do comandante; que um cargueiro com as obras do Manabu Mabe foi abatido no Mar do Japão por um míssil russo, e que um 737 caiu no Nordeste após um pacto suicida entre o comandante e sua amante, que estava a bordo – o marido dela esperava no aeroporto.)

Certa vez, um legendário comandante, ainda na ativa, (e na TAM!) me contou com toda sua experiência de gente mais do que respeitada no meio:

— Em Congonhas, não adianta colocar VHR, Rádio-farol, VLS, biruta, radar e o raio que o parta, para garantir a segurança do vôo na hora do pouso. Ninguém liga para isso; tudo besteira. O que conta, mesmo é o predinho.

— Que predinho, comandante!?

— Antes de existir esse tal predinho, aqui perto do aeroporto, a gente sabia a hora de pousar só de olhar nos joelhos do co-piloto novato. Quando ele encolhia os joelhos, de medo… Pronto! Era só descer. Depois, quando fizeram o predinho, nunca mais aconteceu nem risco de acidente. Qualquer piloto sabe que, se lá de cima não der para ver o predinho, por causa de chuva ou neblina, é melhor ficar voando em volta, até o predinho aparecer. Daí… É batata!

Pouco depois dessa revelação, num começo de noite de sábado, um avião “papa tango”, esses pequenos de prefixo “PT”, no alfabeto da aeronáutica, entrou de nariz e tudo na janela de um edifício de apartamentos, quando se preparava para pousar em Congonhas. Morreram piloto e os três passageiros. Conversando com o zelador do prédio atingido, ele explicou a causa direitinho:

— Esse errou de predinho…

Será que demoliram o predinho salvador? Ou é verdade que só no governo Lulla já morreu mais gente em aviões do que todos os pilotos brasileiros na Segunda Guerra? Santos Dumont tinha de morrer de tristeza. Governo neste País sempre deu nojo.

Pregado no poste: “De hora em hora, parte-se um avião no Brasil”

 

 

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