Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2008Crônicas

A calcinha da amante

A maior que o imperador Pedro I aprontou para Campinas foi ter uma filha com uma escrava. A jovem veio parar nesta cidade, enjeitada pela Corte, depois que ele se mandou para Portugal, atrás do trono que o irmão dom Miguel queria usurpar de sua filha legítima, a Maria da Glória. Era a negra Rosaura, liberta pela digníssima família Krug, de origem alemã.

Tivemos alemães mercenários, também. Quem conta é o Celso Serqueira, no ótimo e curioso www.serqueira.com.br. Em 1825, Pedro I obteve o reconhecimento da independência pela Inglaterra e Portugal. Então, teria grande importância o desfile cívico daquele ano, no Campo de Santana. Seria aberto pela tropa dos temidos mercenários alemães — nosso exército era composto de portugueses e, após a Independência, o imperador não confiava neles. Contratou centenas de mercenários alemães, então desempregados com o fim das guerras napoleônicas.

Eram truculentos, insubordinados e bagunceiros, dando mais prejuízo que segurança ao País. O mais esculhambado? Justamente o comandante do quartel da Praia Vermelha, major von Ewald. Diz Serqueira: ‘Era amigo de Pedro I, seu cúmplice nas esbórnias pelas tavernas. Alcoólatra e falastrão, Ewald se apaixonara por uma rica prostituta — Gertrudes — que morava numa luxuosa chácara na Praia de Botafogo.

Para impressionar Gertrudes, Ewald resolveu demonstrar seu poder e autoridade: prometeu desfilar sua tropa alemã diante da casa dela. Encantada, a prostituta cedeu aos desejos do major – certos autores identificam aí a origem da expressão “topou a parada”, que passou a ser usada primeiramente em tom de galhofa e depois se integrou ao vocabulário popular. Mas para virar “fixa”, Gertrudes impôs outra prova de amor: em vez da bandeira do Brasil ostentada pelo batalhão, pendeu algo nada cívico — as cintas-ligas de Gertrudes, ali colocadas por Ewald.

Após o desfile, Pedro I mandou prender Ewald, rebaixou-o de posto e o sentenciou a uma surra de vara. Em poucos dias, o imperador o perdoou e tudo voltou a ser como antes, inclusive os porres da dupla. Coisas de companheiros de copo e cama.

Os alemães aprontaram outra: levar os mercenários para a Argentina e dar a eles um comandante alemão; pagar os mesmos salários que recebiam no Brasil; o governo argentino alimentaria e equiparia esse exército e daria todas as condições materiais de operação; as tropas alemãs receberiam ordem do governo argentino para ocupar a ilha (hoje, Florianópolis), Santa Catarina mais o território do Rio Grande do Sul e Paraná.

O objetivo era seqüestrar Pedro I e derrubar a monarquia brasileira.

Pregado no poste: “Entre políticos a união faz a farsa?”

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *