Fique bonzinho!
— Com quem eu falo?
— Com quem você quer falar?
— Com o senhor…
— Jesus Cristo não tem telefone…
— Desculpe… ‘Você’. Aqui é do Banco Virtual e nós…
— Agora, isso! Até banco é virtual!
— Queremos estar apresentando ao senhor…
— Senhor é seu avô!
— É que nós temos ordem de estar tratando o freguês assim… É um serviço novo para clientes especiais.
— Nunca fui cliente desse banco e vocês já me tratam como cliente especial. E que raio de banco é esse que tem freguês? Botequim? Assim, a credibilidade do banco me deixa em dúvida. Sabe o Groucho Marx?
— Quem?
— Deixe pra lá. Ele dizia que jamais seria sócio de um clube que o aceitasse como sócio. Você acha que eu vou aceitar ser cliente de uma banco que me considera especial sem eu nunca ter sido seu cliente?
— O senhor esta sendo especial para nós. Esse novo serviço estará permitindo que com o nosso novo cartão o senhor estará tendo acesso a todos os estabelecimentos comerciais da cidade, shows, eventos, espetáculos teatrais sem estar entrando em filas nem estar tendo de ficar enfrentando cambistas…
— Tem de pagar?
— Agora não. Basta o senhor estar abrindo uma conta conosco que o cartão estará sendo entregue automaticamente para o senhor…
— Eu não tenho dinheiro. O pouco que ganho dá para comer um pouquinho; quando almoço, não janto; quando janto é mingau de leite pedra. Fui desempregado pelo governo Lulla, que desviou os recursos de minhas oportunidades de emprego para sua base aliada, e pela política do Palocci. Fiquei fora do mensalão.
— Mesmo assim, o senhor não quer tentar?
— Vamos fazer um acordo. Sugiro que você pare de ligar para pessoas de bem, aqueles que ainda têm trabalho e vivem dele, e vá buscar dinheiro com quem tem. Vou ajudar você: leia os jornais, as revistas, assista aos jornais da TV, ouça rádio. Cada nome que surgir no notíciário das CPIs e nas páginas policiais, você anota.
— Meu senhor, a nossa lista de telemarketing é entregue pela direção…
— Então, atualize a lista de seu calcenter – não é assim que se chama isso? Não confunda calcenter com calcinha nem cueca. Nem mailing list com mala-list. É com essa cambada que está o nosso dinheiro.
— O senhor está brincando!
— Não se esqueça daquela cafetina Jane Não Sei das Quantas, que gosta de receber gente grossa para comemorar o Dia das Mães, em Brasília. Você nem imagina quantos filhos ela tem! Todos podem ser clientes do seu Banco Virtual. Esses, sim, são especiais!
— Já que o senhor não está querendo ser nosso cliente e está morando aí em Ribeirão Preto, me conte: esse tal de Rogério Buratti…
— É muito curioso. Ele foi inoculado em nossa sociedade, importado de Osasco, por um elemento de nome João Paulo Cunha, ex-presidente da Câmara dos Deputados. Ordem do partido, aquelas coisas. Ele era assessor do Zé Dirceu, do próprio João Paulo e do partido da dona Izalene e sua turma (É PRECISO QUE OS CAMPINEIROS NUNCA SE ESQUEÇAM DISSO!!!)
— Nossa! Não precisa gritar desse jeito no meu ouvido!!! Doeu, viu?
— Doeu o grito ou nome dela e sua turma?
— Mas foi tão ruim assim?
— Foi pior, muuuuito pior! E o mundo precisa saber!
— E depois?
— Quando o jovem Palocci, trotskista, egresso da Libelu, se elegeu prefeito de Ribeirão, foi obrigado a engolir gente de fora em sua administração. Ordem do Soviete Supremo, digo do partido. Isso aconteceu em todas as cidades. Teve até uma prefeita que se apaixonou pelo assessor, largou o marido e se casou com o elemento.
— É verdade! O senhor está falando da…
— Cale a boca! Meu telefone está grampeado. Imagine que o coitado do Rogério (moço bão tuda vida!) conhecia tanto a cidade onde ele seria secretário de Governo, que no dia da posse, saiu do hotel e pediu um táxi para ir à cerimônia na prefeitura. Sabe o que o porteiro do hotel disse pra ele? ‘A prefeitura é esse prédio aí na frente!’
— Ele morava no hotel?
— Com as malas e tudo!
Pregado no poste: “Fiquem bonzinhos, se não dona Izalene se candidata de novo!”